Skald Sérgio, Kéfren D'Utafle, S.R.Linguite

Múltiplos nomes; Múltiplos textos; Múltiplas personalidades…

Filhos e Solidão

Texto originalmente publicado por mim no facebook (https://www.facebook.com/srlinguite.autor/posts/1324206784395262)

 

Ensaiei o dia todo pra escrever esse texto, acho que estava mastigando o assunto. Hoje cedo publiquei algo sobre maternidade e comentei, no post, que os primeiros anos de paternidade foram os mais solitários da minha vida. O que eu me dei conta, ao longo do dia, foi que nada mudou. A paternidade continua sendo a parte mais solitária da minha vida.

Há diversos Sérgios em mim: o escritor, o divorciado, o amigo, o amante… e o pai. E esse pedaço de mim permanece um solitário. Eu não faço visitas com as crianças pois casas de adultos não são preparadas para esse tipo de situação – sim, criança vai bagunçar, vai ser curioso, vai querer correr e pular e fuçar e isso não combina com itens frágeis, espaços estreitos, quinas, brinquedos de exposição. Uma visita assim pode, facilmente, acabar com uma amizade ou, no mínimo, causar imenso desconforto em ambas as partes. E eu também não recebo visitas quando as crianças estão em casa, não me pergunte o porquê – as pessoas simplesmente não vêm.

Talvez as pessoas prefiram um adulto mais disponível, diferente de um pai, que vai dividir a atenção entre as crianças e a visita. Talvez tenham dificuldade para lidar com crianças de um modo geral, ou com crianças autistas, especificamente. Talvez sejam apenas horários incompatíveis, dias incompatíveis, distância incompatível. Talvez o mundo todo esteja mais solitário mesmo. Mas o fato é que minha filha mais velha já tem 8 anos, meu mais novo tem quase 6, e conto nos dedos de uma mão (e me sobram dedos) quantos amigos meus já os viram mais de uma ou duas vezes; número bem menor que o de amigos que sequer os conhecem exceto por foto. Independentemente de qual seja o motivo, o Sérgio pai, o Sérgio acompanhado da Isadora e do Ygor, ao longo de todos esses anos parece não ter conseguido amigos – como se fosse uma sub pessoa sem necessidade de interação social, uma ferramenta que só pode viver no contraturno das responsabilidades.

Às vezes me passa pela cabeça que ser pai é difícil, restritivo, e que isso pode ser um dos motivos por trás dessa tristeza recorrente que me derruba de tempos em tempos. Mas uma dessas ondas de tristeza me bateu forte no começo do ano e agora, quando ela dá ares de me abandonar, quando ela encontra esse insight de hoje, é que consigo entender melhor como e porque aconteceu. Eu estava recebendo muitas visitas até o fim do ano passado e o começo desse ano. Pessoas próximas, de quem gosto muito, se sentiam em casa na minha casa, e isso me fazia um bem indescritível. Mas essas visitas pararam – por motivos que não cabe aqui explicar – e a falta que me fazem me derrubou por meses. Nos últimos dez dias, com a volta da vida social – férias \o/ –, percebi que não, a paternidade não me causa tristeza: a paternidade solitária causa.

Então repito aqui a imagem que me fez pensar nisso hoje e deixo uma dica pra você que tem amigos com filhos – você que conhece uma mãe solteira, um pai divorciado, um casal desbravando a paternidade juntos: não queiram estar com eles apenas quando as crianças não estão. Sejam o tio legal, sejam a voz adulta (às vezes a única) com quem podem conversar no dia-a-dia, sejam companhia, sejam amigos da pessoa por completo, incluindo a versão daquela pessoa que tem os filhos.

48992151_1883534738438609_1287194109403987968_o

Deixe um comentário

Informação

Publicado em junho 17, 2019 por em S.R.Linguite.